Uma mensagem de início de ano, regra geral, deve ser alegre, motivacional, mobilizadora.
Porém, nosso primeiro contato neste ano de 2013 dá-se em
um momento de muita tristeza, e ainda impactados pela tragédia ocorrida
na cidade de Santa Maria, na qual mais de duas centenas de jovens
perderam a vida em face da convergência de uma série de erros, omissões,
ilicitudes e descaso com a vida humana.
Um ano que temos como lema de nossa associação “ÁGUA: O
MUNDO QUE QUEREMOS” e que nos faz refletir acerca do papel de cada um de
nós na construção de uma sociedade verdadeiramente justa, fraterna e
ambientalmente sustentável.
Os olhares que podemos direcionar a estas questões podem partir de diversos ângulos.
De um lado, quando lembramos as já notórias circunstâncias
que determinaram as mortes em Santa Maria, podemos facilmente perceber
que se os responsáveis pela organização do evento (e aí incluímos tanto
os particulares como o poder público) houvessem pautado sua atuação pela
Promessa Escoteira, provavelmente a tragédia não teria ocorrido.
Digo isto partindo, simplesmente, da ideia de que todo
Escoteiro deve cumprir seus deveres para com o próximo. E o que
significa isto? Deve atuar sempre considerando pensar no próximo como
destinatário de suas ações. E que tudo deve fazer para que o melhor seja
ofertado ao nosso próximo. No caso, a segurança, o respeito à
integridade física, um local apropriado para a diversão, livre de riscos
e com condições para receber um elevado público, por exemplo.
Se agissem pensando no próximo, não teria ocorrido a
liberação irregular de alvarás; não teria sido colocado revestimento
acústico mais barato, porém inflamável; não teriam sido utilizados fogos
de artifícios próprios para ambiente externo, em detrimento do adequado
para o ambiente interno (eis que este mais caro); não se teria
permitido a superlotação de pessoas, etc.
Da mesma forma, se todos fossem “obedientes e
disciplinados”, a legislação aplicável teria sido respeitada e, por
consequência e provavelmente, a tragédia não teria ocorrido (ao menos
não na proporção absurda que se abateu).
Digo isto, para lembrar a cada um de nós qual deve ser
nosso real desejo quando buscamos viver orientados pelos princípios da
Lei e da Promessa Escoteira.
Muitas vezes a percepção da relevância do Escotismo é esquecida por muitos ou, ainda, não percebida pela maioria.
Houvesse a prática efetiva dos valores referidos, seríamos
poupados de iniciar o ano com mais esta tragédia nacional, que
caracteriza o descaso, o “jeitinho brasileiro”, o ganho fácil, o agir
como que se nada tivesse consequência ...
Nesta linha, voltamos ao nosso lema: O Mundo que queremos! Este ano, com foco na água.
O que queremos? Um mundo mais fraterno? Um mundo mais
justo? Um mundo ambientalmente sustentável? Um mundo no qual as regras
sejam cumpridas e os direitos de todos respeitados?
E estamos trabalhando para isto?
Façamos uma pausa para reflexão e um compromisso para a ação.
Vamos realmente contribuir para a construção de um mundo melhor.
Parece-me que a missão é singela. Basta que vivamos de
forma plena e sincera nossos valores e que possamos oferecer a prática
do Escotismo (e, portanto, seus valores) a um número cada vez maior de
crianças e jovens brasileiros.
Mas devemos oferecer um Escotismo verdadeiro, no qual se
vivencie e pratique a Promessa e Lei tal como as conhecemos. E que o
atuar de cada um, e de todos, esteja permanentemente pautado por estes
valores.
Atuação esta que deve ser assim conduzida em todos os
cenários de nossas vidas. Inclusive, e principalmente, dentro de nossa
associação.
Acaso consigamos isto, sem dúvida, estaremos ajudando a construir um mundo melhor: O MUNDO QUE QUEREMOS!
Marco Aurélio Romeu Fernandes
Presidente da União dos Escoteiros do Brasil